SOBRE GRITO ROCK, VIAGENS E PESSOAS
A casa estava enchendo e era hora do som começar. E começou, iniciado por Ataque Nuclear. A banda, que é de CG mesmo, levou ao palco o que uma amiga minha tratou como “hardcore de mano”. E de fato era. Ainda bem! Fizeram os enlouquecidos ali presentes se sacolejarem e se embrenharem em todo o resto da noite. Um “abre-alas” e tanto.
Logo subiu ao palco Facas Voadoras. O maior expoente – atual – da música independente de Mato Grosso do Sul. Precisa de mais? Um rock n roll, meio garage rock, meio yeah rock… Não importa! Fez tremer o chão do bar e muitos copos de cerveja serem entornados frente ao palco. Só pra lembrar, a banda lança CD ainda este ano. Estamos no aguardo!
A outra banda local a se apresentar na primeira noite do Grito Rock CG foi a Jennifer Magnética. Incrível como as músicas deles, rápido, viram hits! “Malditos Cromossomos”, do próximo álbum, nem demo tem e já tinha gente cantando com eles. Muito bom de ser ver, ouvir e cantar.
As bandas convidadas de outros estados foram Amaurose de Macapá e Desalma, de Recife.
Difícil não se deixar levar pelo metal das duas. Ambas tinham uma pegada death metal muito rica e uma instrumentação do caralho. Fiquei até meio em transe com as linhas de bateria do Desalma. As duas trouxeram material próprio pra venda e também seus banners (imensos, por sinal) para ficaram de fundo de palco. Fizeram viagens longas, tocaram (e tocariam) em outros Gritos Rock e não por menos: até quem não tem o feeling pro metal se sentiu levado pelo som das duas bandas. E outro ponto: os integrantes são muito gente boa. Trompei com eles em Cuiabá também, mas isso eu conto depois. Valeu Amaurose e Desalma!
Caralho! Não tomei quase nada alcoólico neste dia, mas de repente meu fígado começou a doer demais! Tive que ir embora ás pressas. Mas tudo bem! Foi bom pra eu aproveitar melhor o nascer do dia 13, segundo do Grito Rock CG.
Nos tempos de hoje, se preocupar com viagem é mais do que não esquecer nada importante ou o preço da passagem de volta. Ainda mais se você tem uma banda e está saindo em turnê com ela, ainda que seja uma mini turnê. As questões a serem levadas em conta: vale a pena ir? Qual o retorno do investimento? Será que vão gostar do nosso trabalho? Será que agüentaremos a pegada? Todas as respostas acima: sim. Já, já explico.
Bem, dia 13, segundo de Grito Rock CG. Vai ter Gobstopper! Não conhece? É a minha banda, onde toco e levo o nome da música local adiante. Enfim, dia de fazer as malas! Após a apresentação, rumaremos para Cuiabá, para tocar no Grito Rock de lá no dia 14 e em Chapada dos Guimarães no dia 15. Quesito empolgação, jurado Marcel Papel: nota 10.
A viagem seria, ainda, com os gajos da Jennifer Magnética, que tocariam no Grito Rock Cuiabá dia 15, mas antes dia 14, na Chapada. Bem, hora de ir tocar (aqui em CG primeiro, não se perca).
Vou contar do resto da noite e depois falo da Gobstopper.
Impossíveis. “1, 2, 3, 4!“ Às vezes eu esqueço o quanto é bom estar num show de uma banda que ainda mantém o mesmo tom de quando surgiu! Acha isso ruim? Nunca ouviu Impossíveis, certeza. Letras na ponta da garrafa de cerveja dos presentes. Era só beber e cantar. Destaque pro Tomáz, da DxDxOx, que agora é um ‘Impossível’.
A banda de fora, naquela noite, foi a Watson, de Brasília, que veio com sua roupagem indie rock, bem como a necessidade da festa fazia valer. Fizeram um puta show empolgante só de músicas próprias e de melodia fácil de recordar. Acho que Brasília só tem mantido a média de parir bandas boas. Uma observação: isso tudo quem me disse foi o pessoal que curtiu o show. Eu mesmo não puder ver. Já, já eu explico…
Dimitri Pellz: não vi. Merda! Mas, na boa: todo mundo depois veio me dizer “porra, foi muito bom o show deles” ou “foda, tão cada dia mais se firmando como a próxima grande banda independente da cena”. Precisa de mais? De que valeriam minhas palavras? De nada!
Antes da Watson e depois dos Impossíveis, entrei em palco com a Gobstopper. Era mais ou menos 2h. Eu tava super na pilha de tocar, porque era nossa primeira vez em um Grito Rock e seria dentro de casa. Pra aquecer, mandamos um medleyzinho de Júpiter Maçã. E, na boa? Nada tira de minha cabeça que foi isso que fez com que uma corda do meu baixo arrebentasse no meio da música. Tentei não fazer uma cara de “e agora?” e continuei firme ali, tocando com as demais cordas. Acabou a música e todo mundo me olhou com uma cara “e agora, Marcel?”. Nem precisei fazer ela, hehe. E também não precisei fazer outra cara qualquer: mais que rápida e prontamente, Heitor, baixista do Dimitri, pos seu contrabaixo à minha disposição, e dele tirei o que jurei que seria o melhor som que já tirei de um contrabaixo. E o fiz. Mandamos nossas principais músicas e um agradinho pro pessoal que nos ouvia e que pediu Kings of Leon.
Fim de apresentação. E agora, que baixo levaria pra Cuiabá? Aí entrou em cena de novo Heitor. Cara, nós fomos até a casa dele e ele me emprestou um outro baixo que estava encostado e sem uso. Foi o suficiente pra saciar minhas preocupações, conferir a coleção de HQ do Heitor e perder o show do Watson e do Dimitri, já que logo estaria de partida. Uma pena perder esses dois shows, mas foi pelo bem da música. Em seguida, casa e logo depois estrada!
Ainda sem dormir, fui para a concentração da viagem, de onde partiria nossa van. E de cara, uma notícia pra me deixar bem pra baixo: a câmera que eu esperava que fosse, uma Nikon, não mais estava na jogada. Merda. Mas, fazer o que, a vida é assim.
05h38 do dia 14 de fevereiro. Estrada. Começamos a viagem embalados por um, digo, por vários dvds de apresentações antológicas do The Who. Apresentações, essas, que me serviriam – e muito – mais tarde, em Cuiabá.
A estrada é estreita, cheia de caminhões e ainda chovia. Serra, acidentes, animais mortos pela estrada… muitos elementos de uma viagem tranqüila. E foi mesmo! Apesar de tudo, nada nos ocorreu. Ok, um susto ou outro, mas só!
Chegando em Cuiabá, fomos direto à Casa Fora do Eixo. Fui o primeiro a entrar pela porta de baixar, ainda entreaberta. Entrei e de cara vi Bruno Kayapy, guitarrista do Macaco Bong, limpando o chão da casa, dos resquícios da última noite e em seguida uma puta notícia: eles iriam tocar naquela noite, junto com a Gobstopper e outras bandas amigas, como Inimitáveis, Snorks e Amaurose. Confesso que ver alguém do Macaco Bong limpando o chão de um pub foi meio impactante pra mim, mas logo percebi que quem está no rolê tem que fazer tudo valer à pena. Foi um bom exemplo pra mim.
Sem mais delongas, chegou a noite. E junto, o Grito Rock Cuiabá para a Gobstopper. Entramos em palco logo após a Amaurose. É difícil entrar assim, após uma banda tão boa e de um segmento diferente do nosso. Mas, nem pareceu! O público da casa era incrível e recebia muito bem a todas as bandas.
Em nossa apresentação, muitas reações boas, principalmente em Sensação de Perda, Talvez… e Chora Não. Saímos aplaudidos e com uma sensação de dever comprido. A sim, toquei com o contrabaixo do brother Felipe, da Snorks e também dos Inimitáveis. Bandas, essas, que também fizeram shows lindos naquela noite. Ainda sim, valeu, Heitor!
Depois disso, uma garoinha até o hotel e 4 horas de sono até voltar à ativa, já que iríamos pra Chapada. Mas não fomos. Quando acordei, fui logo de encontro aos caras do Jennifer, que estavam de regresso de lá e contaram-nos que não teve o role por lá, por falha de organização. Logo, Gobstopper também não tocou lá. Nem fomos! Mas tudo bem, oportunidades não faltarão. Aproveitei o dia pra conhecer o pessoal do Espaço Cubo, que é o coletivo de bandas de lá e ponto Fora do Eixo organizador do Grito Rock Cuiabá. Como eu estava com a Rubik’s Camisetas também, junto com o Ton, fomos lá firmar uma parceria com o coletivo. Em breve, notícias sobre a parceria. Vale a pena esperar!
Já era noite de novo, e voltávamos ao pub para nossa última noite em Cuiabá. De CG, era a noite onde a Jennifer Magnética se apresentaria. Assim, não dá pra falar de todas as bandas, até porque usei o tempo pra fazer contatos por lá e também pra trabalhar na banquinha da Rubik’s que, por sinal, vendeu bem pra caralho! Então, vou direto ao show da JM. Apoteótico! Levou os presentes à loucura, com seus hits e sua performance invejável. Destaque para a… falta de luz! Sim, ficamos sem luz na rua toda por uns 4 minutos, mas ainda sim, a a JM segurou a galera em frente ao palco e terminou seu show assim que a luz voltou, de onde tinha parado! Fantástico! “Aplaudidos muito foram” (Mestre Yoda).
A sim, antes de anoitecer, no dia 15, rolou um papo das bandas presentes com o Pablo Capilé, que contou uma breve história da evolução da distribuição de música e da participação das bandas independentes no cenário nacional. Frisou que é o fim do “do it yourself” e o começo do “do it together”. E ele tem razão.
Depois de relatar tudo isso, me resta, apenas, fazer as devidas considerações finais.
Espaço Cubo, vocês são foda! Valeu a força! Mesmo!
Galera de Cuiabá, valeu a receptividade da Gobstopper no palco e as compras no stand da Rubik’s.
Pessoal que acompanhou as bandas, vocês foram imprescindíveis!
Pronto! Tudo certo pro Grito Rock 2011. Já abriram as inscrições?
Relatos de Marcel Papel sobre suas impressões dos Gritos Rock Campo Grande e Cuiabá. Ainda falta coisa, mas não faltarão oportunidades de eu relatá-las. Espero.
Obrigado.
Campo Grande, 17 de fevereiro de 2010.
Texto originalmente publicado em www.yourocker.wordpress.com
Fotos por Letícia Sicsú (Campo Grande)
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